O que é Tatuagem Polinésia?
Polinésia é um sub-região da Oceania, que formam um grande conjunto de mais de 1000 ilhas espalhadas pelo centro e sul do Oceano Pacífico, dentro de um triângulo que tem a Nova Zelândia, Havaí e Ilha de Páscoa como seus Polígonos.
As pessoas que habitam as ilhas da Polinésia são chamadas de polinésios e eles compartilham muitas características semelhantes, incluindo cultura, alimentação, vestimentas, língua e crenças. Línguas polinésias podem variar ligeiramente uns dos outros, ou até ter uma diferença gritante dependendo da distância entre os grupos de ilhas e da frequência dos seus contatos. Há algumas palavras que são basicamente as mesmas em todas as línguas polinésias, refletindo o núcleo mais profundo de todas as culturas polinésias, onde a tempos remotos tudo era um só dialeto. Como exemplo vou citar as duas palavras mais emblemáticas e conhecida, que são Moana (oceano) e Mana (força espiritual, energia), é interessante notar a semelhança entre essas duas palavras, e isso não deve ser uma surpresa, uma vez que entendemos a relação entre as culturas da Polinésia.
Para o povo Polinésio o oceano garante a vida e é também o local de nascimento e descanso, significa abundância, prosperidade e proteção, sendo tão vital para o homem como o ar que respiramos.
As Tatuagens polinésias refletem isso de uma maneira forte, seja no estilo tradicional, com padrões mais estilizados e geométricos ou no estilo moderno, mais figurativo. Criaturas marinhas desempenham um papel de grande importância nas tatuagens no estilo moderno, Tubarões, Arraias, Golfinhos, Baleias, Tartarugas, cada um deles adquire um significado relacionado com a sua natureza interior e incorpora esse sentido de passá-lo para o portador da tatuagem, a analogia criada e a hierarquia são determinantes no resultado final, a harmonia é o fator principal ao se conjugar esses elementos, o tatuador precisa entender profundamente a cultura Polinésia para que na hora da criação não tenha que recorrer a livros ou consultas pela Internet para criar um projeto para o cliente, na hora da criação deste projeto tudo precisa ser muito dinâmico para que o resultado seja satisfatório, para que o tatuador não perca o foco ao recorrer por consultas, além do mais os significados sobre os elementos culturais estão bastante fragmentados e sua credibilidade está muito duvidosa, algo como um “fakenews”, eu vejo traduções de significados sendo criadas aleatoriamente, hora por ignorância, hora por conveniência, mas que levam a uma interpretação totalmente errônea quando nos aprofundamos no assunto e tecemos um paralelo sobre o que está escrito e o que foi escrito. O que foi escrito esta nos livros de antropologia datados do século passado, que é a base de meus estudos, livros que tem total credibilidade, pois foram escritos em sua grande maioria por quem vivenciou junto a essas tribos o seu dia a dia, de quem conviveu com os grandes chefes tribais e pôde extrair da fonte a forma mais crível de reproduzir esse conteúdo sobre a cultura Polinesia.
Tatuagens polinésias são uma maneira de contar histórias sobre seus donos a ponto de tornar-se um cartão de visita, ou uma maneira de dar-lhes proteção, força ou poder do vínculo criado com as outras criaturas, (Aumakua).
Outro elemento importante a ser considerado é representado pela “Aumakua”.
Um “Aumakua” é uma entidade dotada de poderes sobrenaturais geralmente um antepassado divinizado ou um espírito, que aparece para os homens geralmente sob a forma de um animal, para dar-lhes conselhos, presságios e às vezes castigos.
No caso dos ancestrais divinizados, as famílias vão manter no tempo uma relação especial com seus animais específicos, (sua linhagem), que muitas vezes podem ser Tubarões, Tartarugas, Arraias ou outras criaturas do mar.
A atitude face ao “Aumakua” varia muito de ilha para ilha: alguns consideram sua tatuagem “Aumakua” como um bom presságio e uma garantia de proteção, enquanto outros consideram, “Tapu” (sagrado e proibido) e, portanto, deve se evitar que eles sejam tatuados em seus corpos.
O papel do “Aumakua” não é tão diferente dos animais totêmicos dos nativos americanos, eles trazem mensagens nos guiam e nos protegem. Temos de aprender a lição e respeitá-los, a fim de preservar o vínculo com eles e sermos protegidos. Respeito pela Natureza e suas criaturas desempenha um papel importante na cultura polinésia e assim deve-se fazer o equilíbrio e a união de tudo que nos cerca.
Tudo isto tem de ser levado em consideração quando se prepara um desenho de tatuagem polinésia.
Para um projeto estritamente tradicional o Tohunga um nativo (mestre na tatuagem polinésia) essa deve ser feita da maneira antiga, pelo mestre e seus discípulos, isso envolve muito mais conhecimento do que se que poderia incorporar em um livro. O estilo de tatuagem varia de ilha para ilha, depende das diferentes tradições, exemplos são, Moko, Tamoko, Pe´a, Hiva Ao, entre outros estilos.
Os estilos tradicionais mais perto das origens consistem principalmente de linhas retas e dependem fortemente a repetição de alguns padrões básicos, cujo significado muitas vezes foram esquecidos ou distorcidos ao longo do tempo, existe muita controversa sobre seus significados e esses são motivos de discussão até hoje.
Bons exemplos desses estilos geométricos são encontrados em Samoa e as tradições da tatuagem havaiana, ou em tatuagens de Palau, Fiji, Tonga, só para citar algumas.
Tatuagens Maori e Marquesan vezes são ricas em elementos arredondados e compartilham um estilo mais figurativo, no caso das Ilhas Marquesans temos basicamente dois estilos, o “Hiva Oa” sendo a mais figurativa e o mais usado no presente.
A Tatuagem para esses povos sempre foi considerado um processo sagrado, um ritual para mostrar a coragem ao mundo, manter uma linhagem e declarar ações, bem como um meio de comunicação com os deuses.
Os Mestres da tatuagem (Tohunga), eram pessoas muito importantes, pois sabiam o significado dos símbolos e motivos e como relacioná-los para criar uma obra significativa da arte pessoal de cada homem ou mulher. Acreditava-se que eles eram tomados por espíritos quando criavam ou tatuavam, algo parecido como “Chico Xavier” era um tipo de psicografia na pele, esses Mestres pertenciam a uma linhagem, não eram meramente escolhidos para ter aquela função dentro da Marae, (Tribo) seus conhecimentos eram passados de pai para filho, o mais próximo que se podia chegar era ser um discípulo isso não era ampliado pois era de uma natureza sagrada.
Infelizmente, as proibições de se tatuar com a colonização europeia causou uma grave perda deste conhecimento.
Um foco especial é dado a sua colocação sobre o corpo, a relação entre diferentes símbolos e como escolhê-los para criar um projeto significativo vai além da estética para contar uma história, com exemplos da vida real e estudos de casos explicados em detalhe, o Tohunga criava a tatuagem com base nesses preceitos.
Nos dias de hoje não é muito diferente, o Tatuador deve criar um projeto para tatuar, porem de forma mais resumida, pois vários fatos da vida moderna são diferente da forma que viviam esses povos no passado, e sendo assim expressões detalhadas não se tem como retratar, eles retratavam detalhadamente, adversidades ou conquista relacionados muita vezes na caça, pesca, conflitos, batalhas e principalmente retratando seus antepassados. Por isso hoje sintetizar uma historia contemporânea é a melhor solução.
Deve-se abrir um breve parêntese sobre escritas, frases e nomes incorporados em projetos de tatuagem no estilo polinésio. Dentro da cultura polinésia não se faz escritas, até mesmo porque não se tinha um alfabeto definido antes da colonização.
Desta forma ao decidir por fazer uma Tatuagem no estilo Polinésio, você deve ter em mente essa minha narrativa e compreender a importância na escolha de quem vai criar o seu projeto de tatuagem, e quem irá executar esse projeto, hoje temos excelentes profissionais da Tatuagem (tatuadores), mas com conhecimento sobre os preceitos da “Cultura Polinésia” infelizmente no Brasil, não se consegue contar nos dedos de uma única mão. Falo isso com muito pesar pois por eu produzir bastante conteúdo e ter muito portfolio relacionado, isso além de limitar meus conhecimentos, digo; (não poder comparar, debater, questionar) me traz muita responsabilidade e cobrança, vivo sobre uma pressão, algo como uma obrigação de saber sobre tudo, de ter que explicar sobre tudo, quando isso para mim é meu ganha Pão, mas principalmente meu Hobby, sim meu Hobby, pois hoje tenho uma loja onde tatuam outros 4 tatuadores e minha filha vem gradativamente assumindo minha posição.
Eu não gostaria de ter esse fardo, mas quando eu vejo a reação de meus clientes, e os comentários de minhas publicações, consigo equilibrar e continuar a produzir sempre hoje, melhor que ontem.
Abaixo deixo uma resumo que o Tatuador Antropólogo "Lars Krutak" escreveu e resume de forma magistral o que é cultura Polinésia.
Em toda a Polinésia, a tatuagem era uma prática cultural que transcendia o tempo e o espaço. O conhecimento da tatuagem era tradicional e, como foi transmitido ao longo de sucessivas gerações, tornou-se um método testado e consagrado pelo tempo para afetar mudanças físicas, psicológicas e espirituais nas pessoas que o suportaram. Os motivos da tatuagem viajaram entre linhagens e traçaram relações genealógicas de volta aos deuses. E porque cada novo desenho era uma duplicata ou compósito inspirado em uma fonte ancestral original, reunia em um só lugar a referência simultânea ao passado antigo ( po ), presente ( ao ) e futuro.
No entanto, quando o pente de tatuagem atingia a pele, a liberação de sangue era considerada um momento poderoso relacionado aos ciclos recorrentes de nascimento, maturação, realização e renascimento. E através desse ato de repetição, a tatuagem tornou manifestas várias ideias e sentimentos importantes em torno da vida e da morte dentro do tecido visual da cultura indígena polinésia.
A tatuagem também animava e influenciava o mana de outros, tanto humanos quanto sobrenaturais, que controlavam o destino e o mundo ao redor. E como sistema de ação cerimonial e ritual, a tatuagem polinésia era um componente de um sistema altamente complexo e essencial à reprodução social e religiosa das culturas locais. Isso porque a tatuagem transformou o corpo em um microcosmo do universo indígena, criando um espaço sagrado, pessoal e coletivo que forneceu um meio para conciliar os assuntos humanos e divinos por meio de desenhos dramáticos que iluminavam e constrangiam o próprio corpo.
Mas, com o tempo, a tatuagem perdeu gradualmente sua importância no repertório cultural da maioria do povo polinésio. A administração colonial e especialmente a missionação cristã pavimentaram forçosamente o caminho para o abandono de costumes antigos em muitas regiões, embora em algumas áreas a prática tenha sobrevivido (por exemplo, Samoa) ou tenha sido simplesmente levada à clandestinidade até que finalmente foi revivida nas últimas décadas.
Hoje, a prática da tatuagem polinésia continua. Mas oportunidades cada vez maiores de interação artística entre tatuadores tradicionais e não-polinésios têm contribuído para tensões crescentes relacionadas a questões de apropriação cultural. Muitos designs contemporâneos são símbolos genealógicos e formas de propriedade intelectual relacionadas a famílias específicas, e há uma forte sensação de que eles foram desvalorizados ao serem copiados por pessoas de fora que não têm conhecimento do que esses padrões pretendem transmitir.
No entanto, para os praticantes de tatuagem polinésios e seus destinatários indígenas, a forma de arte permanece fiel às suas origens. A tatuagem não apenas afirma filiação, genealogia e intenção religiosa, mas também presta homenagem aos ancestrais por meio de um movimento artístico de respeito mútuo.