O que é Tatuagem Marquesan?
O que é Tatuagem Marquesan? Vou tentar responder: As Tatuagens Marquesan tem como sua origem as tatuagens Samoana, por volta de 200 d.C., viajantes de Samoa e Tonga se estabeleceram na área das ilhas Marquesas.
Durante um período de mais de 1000 anos, uma das culturas polinésias mais complexas evoluiu e é o que conhecemos hoje sobre Cultura Marquesan especificamente Tatuagem Marquesan. Eu precisaria de uma centena de páginas para explicar concretamente a origem da Tatuagem Marquesan, mas preciso fazer um breve resumo e deixar meu entusiasmo de lado, confesso que é difícil, pois sou um apaixonado pela cultura Marquesan, qualquer fato ou análogo que eu não conheça, veja ou fique sabendo, vou a fundo na pesquisa para saber tudo sobre.
As ilhas Marquesas têm uma longa história de tatuagem geométrica, essas tatuagens são complexas, e comumente cobriam todo o corpo de homens e mulheres.
Tatuagens Marquesan são reconhecidas por símbolos de marca registrada ou motivos padrão, esses símbolos podem ser esteticamente modificados de acordo com a criatividade de cada tatuador, mas costumam e devem ter a essência de sua descendência que foram catalogados.
Vemos comumente tartarugas, lagartos, Tiki ‘s, Cruz Marquesan, Enatas (figuras humanas) que são constantemente confundidas com outros desenhos pertencentes a mesma cultura, mas com nuances sutis que diferem todo o seu significado, está aí uma das maiores complexidades em ter uma interpretação mais conclusiva sobre os verdadeiros significados das Tatuagens Marquesan, a grande variedade e proximidade gráfica de vários símbolos e sentidos diferente.
Os Desenhos Marquesan distinguem-se pelo uso de símbolos e representações artísticas consistentes de linhas, arcos, círculo e semicírculos, que são atribuídos e ligados de forma única. Os motivos circulares utilizados repetidamente nas tatuagens marquesan de hoje são uma evolução estética das tatuagens do passado, com o advento da tecnologia, Photoshop, iPad, canetas de vários calibres e com o implemento de ferramentas onde o artesão, Tatuador pode elaborar símbolos mais complexo e harmoniosos, temos uma mudança natural de estética aprimorada do que seriam as tatuagens Marquesam nativa.
Podemos chamar esses motivos de tatuagem como “Marquesan Moderna”, assim como já é usado em vários locais do mundo a terminologia de “Modern Polynesian”, como o foco aqui é Tatuagem Marquesan chamaremos então como “Marquesan Moderna”, isto é uma nomenclatura apenas para diferenciar a parte estética e evolutiva. Porém os conceitos e significados nunca devem ser mudados, isso seria um total desrespeito e um perjúrio, por isso novamente eu cito a importância de conhecer sobre os significados dos elementos com total confiança na fonte de onde extraiu a informação, e apenas exercer sobre esse elemento uma mudança estética, mas sem perder o padrão registrado do grafismo em si.
As tatuagens Marquesan são compostas por símbolos abstratos repetitivos combinados com motivos relacionados em sua maioria com a natureza, como tartarugas, tubarões, samambaias, flores, conchas e muitos dos desenhos incorporam histórias ancestrais. “A tartaruga geralmente representa família paz e longevidade. Quem conhece as variações dos significados dos elementos, consegue metaforizar uma relação do elemento com uma passagem ou fato peculiar da vida ou história de seu demandante e assim um novo sentido para aquele significado é criado. Um símbolo comum se transforma em um símbolo excepcional. Conhecer a cultura e os elementos é o mais importante para criar um projeto de Tatuagem Marquesan, pois o correto é você criar esse projeto mostrar para seu cliente a fonte de embasamento que você utilizou para chegar aquela conclusão.
E o mais importante que essa fonte utilizada seja de total credibilidade, preferencialmente livros e estudos realizados por pesquisadores e estudiosos sobre o assunto, não um mero post de Instagram.
Na cultura marquesan os homens receberam suas primeiras tatuagens na adolescência em um ambiente ritualístico. Na velhice, em sua grande maioria já possuem o corpo todo tatuado. As mulheres também eram tatuadas, mas não tanto quanto os homens. Os desenhos compartilham muitos motivos simbólicos idênticos, mas nunca copiados inteiramente. As tatuagens de cada indivíduo eram diferentes e significavam herança, realizações, comemorações após conquistas, como nas batalhas, reverencias aos antepassados, saudações ao presente e uma súplica de proteção para o futuro.
As Ilhas Marquesan, foram encontradas pela primeira vez pelo explorador espanhol, Álvaro de Mendana de Neira, em 1595. No entanto, os navegadores europeus mostraram pouco interesse devido à falta de recursos valiosos.
Foi o capitão Inglês, James Cook o primeiro navegador a tentar explorar as ilhas da Polinésia que compreende um grande agrupamento de mais de 1000 ilhas espalhadas pelo centro e sul do Oceano Pacífico, dentro de um triângulo que engloba Nova Zelândia, Havaí e Ilha de Páscoa como suas extremidades.
Em 1771, quando James Cook visitou o Tahiti e assim a palavra “Tattoo” apareceu na Europa. Ele narrou os comportamentos do povo polinésio em sua viagem, aos reis da época e chamou de “TATAU” a arte de tatuar pelos nativos.
Ele também trouxe um taitiano chamado Ma’i para a Europa e desde então a tatuagem começaram a se tornar popular e criar fama, principalmente por causa das tatuagens de Ma’i.
Outra questão importante da expansão das tatuagens tribais foi o fato de os Marinheiros europeus carregarem em seu corpo as Tatuagens de Ma’i e difundi-las pelos quatro cantos do mundo.
A tradição real da tatuagem polinésia existe há mais de 2.000 anos, no entanto, no século 18, o Antigo Testamento proibiu estritamente as pessoas a se tatuarem.
Desde seu renascimento na década de 80, muitas artes perdidas foram revividas, mas com a tatuagem tornou-se muito difícil de continuar pelo fato da dificuldade de esterilizar as ferramentas de madeira e osso que eram usadas para o processo tradicional de tatuagem, então o Ministério da Saúde Francês proibiu novamente a tatuagem na Polinésia em 1986, fazendo que a tatuagem naquela região onde tudo começou entrasse novamente em declínio, os fragmentos que resistiram os reveses do tempo fosse perdido para sempre.
A cultura Marquesan foi uma das que mais sofreu e foi prejudicada no período após a chegada dos exploradores europeus literalmente ela foi devastada. A principal causa de seu colapso está diretamente ligada aos efeitos catastróficos de doenças transmitidas pelos exploradores, especialmente a varíola, que reduziu a população em cerca de 98%. Logo em seguida durante a colonização a igreja católica proibiu a tatuagem alegando ser uma prática pagã e o Rei das Ilhas Marquesans, por influência da igreja e a sanha de se ocidentalizar, achando que aquele novo estilo de vida moderno era o que existia de melhor, chegou a imputar pena de morte para quem infringisse essas leis, essa foi a pá de cal que precisava para que se perdesse todo o conhecimento sobre a cultura da tatuagem Marquesan.
O Resgate da Cultura:
Voltando no tempo, foi depois de mais de 50 anos de colonização abrupta por volta de 1897 que o pesquisador Karl von den Steinen um médico, explorador, etnólogo e antropólogo alemão. Pesquisador da Universidade de Berlim, começou a resgatar fragmentos desta cultura, em especial sobre as questões pertinentes a cultura da Tatuagem Marquesan.
Gostaria de citar que boa parte dos meus estudos estão baseados nas escrituras de Willowdean Chatierson Handy Bernice e Karl von den Steinen aqui iremos retratar Willowdean Chatierson Handy Bernice apenas como Will e Karl von den Steinen como Karl.
Will viveu algum tempo nas ilhas Marquesas, precisamente em 1921, mais de 20 anos depois de Karl, Will tinha conhecimento sobre o que Karl havia escrito sobre as tribos da Polinésia e especialmente sobre as tribos Marquesan, Will e Karl, juntos são as pessoas mais importantes quando falamos em Tatuagem Marquesan, sem eles os significados que conhecemos sobre essa nobre arte, estariam perdidos para sempre.
Para se ter uma ideia da complexidade quando falamos de Tatuagens Polinésia, e aqui estamos retratando a cultura Marquesan, até alguns anos atras, os nativos dessas ilhas nada sabiam sobre significados além de suas nomenclaturas, mitologias, analogias, significância e metáforas, a grande maioria nem sabiam que existiram.
Alguns anos atras, e que fique claro que eu escrevo esse texto em 2022 alguns pesquisadores remanescentes da vertente de Karl viajaram para o Tahiti para atualizarem os estudos de Karl, e visitaram algumas tribos que então exploravam a Tatuagem Nativa comercialmente, inclusive esse fato aconteceu com um tatuador conceituado entre nativos e turistas, um tatuador muito procurado.
Os pesquisadores notaram que esse tatuador utilizava um dos manuscritos de Karl que continha alguns desenhos, que era a fonte de inspiração e referência desse tatuador, acontece que estava escrito em alemão, a língua nativa de Karl, e nesse manuscrito estava escrito, que aquele desenho, que era a referência do tatuador, dizia que aquela tatuagem era para ser feita nas pernas de “Mulheres”, só que o tatuador estava tatuando um homem. Entendem como tudo foi perdido, e o que nos restou foi o legado de Will e Karl.
Desta forma apenas os estudiosos e conhecedores das obras desses dois sujeitos têm uma interpretação mais conclusiva sobre as Tatuagens Marquesan. Eu tento ser um desses.
Infelizmente a história se reescreve, pois hoje igualmente como naquele tempo a Tatuagem Marquesan de alta performasse, está restrita a uma classe social mais graduada. E quando falo “Alta Performasse” não estou relacionando apenas como uma tatuagem de valor agregado e estética, falo também em uma tatuagem construída com conhecimento tanto dos significados da simbologia como o local do corpo que eram usados na época.
Feitas com materiais de qualidade, em um Studio adequado livre de qualquer possibilidade de se adquirir alguma patologia, e talvez o mais importante seja que pessoas mais esclarecidas, procurem tatuar algo que tenha um verdadeiro significado que acrescente algo mais que meramente estética, que valorizem quem oferece esse serviço tão exclusivo e limitado a poucos Tatuadores. É um universo de fatores que compõe esse cenário e fazem com que classes socias tenha tatuagens diferenciadas.
Naquela época as Tatuagens mais elaboradas também eram feitas na classe social mais elevada, principalmente pelo fato de os mais ricos terem condições de contratar os melhores artesões Tatuadores ou mestres “Tohuga”.
Hoje como eu citei acima a classe social mais elevada costuma deter mais conhecimento histórico e poder aquisitivo, ao mesmo tempo valorizar mais quando se trata de algo que será inserido em seu corpo e sua vida para sempre.
Os maiores mestres Tohuga sempre eram os que possuíam uma idade mais avançada, neste quesito eu me enquadro bem, pois a estou na casa dos 50, rsrsrs. Desta forma com as classes mais baixas visivelmente menos tatuadas do que as mais altas, chegarmos à conclusão de que esta forma de decoração indicava pessoas nobres ou distintas para a época.
Abaixo deixo uma resumo que o Tatuador Antropólogo “Lars Krutak” escreveu e resume de forma magistral o que é cultura Polinésia.
Em toda a Polinésia, a tatuagem era uma prática cultural que transcendia o tempo e o espaço. O conhecimento da tatuagem era tradicional e, como foi transmitido ao longo de sucessivas gerações, tornou-se um método testado e consagrado pelo tempo para afetar mudanças físicas, psicológicas e espirituais nas pessoas que o suportaram. Os motivos da tatuagem viajaram entre linhagens e traçaram relações genealógicas de volta aos deuses. E porque cada novo desenho era uma duplicata ou compósito inspirado em uma fonte ancestral original, reunia em um só lugar a referência simultânea ao passado antigo ( po ), presente ( ao ) e futuro.
No entanto, quando o pente de tatuagem atingia a pele, a liberação de sangue era considerada um momento poderoso relacionado aos ciclos recorrentes de nascimento, maturação, realização e renascimento. E através desse ato de repetição, a tatuagem tornou manifestas várias ideias e sentimentos importantes em torno da vida e da morte dentro do tecido visual da cultura indígena polinésia.
A tatuagem também animava e influenciava o mana de outros – tanto humanos quanto sobrenaturais – que controlavam o destino e o mundo ao redor. E como sistema de ação cerimonial e ritual, a tatuagem polinésia era um componente de um sistema altamente complexo e essencial à reprodução social e religiosa das culturas locais. Isso porque a tatuagem transformou o corpo em um microcosmo do universo indígena, criando um espaço sagrado, pessoal e coletivo que forneceu um meio para conciliar os assuntos humanos e divinos por meio de desenhos dramáticos que iluminavam e constrangiam o próprio corpo.
Mas, com o tempo, a tatuagem perdeu gradualmente sua importância no repertório cultural da maioria do povo polinésio. A administração colonial e especialmente a missionação cristã pavimentaram forçosamente o caminho para o abandono de costumes antigos em muitas regiões, embora em algumas áreas a prática tenha sobrevivido (por exemplo, Samoa) ou tenha sido simplesmente levada à clandestinidade até que finalmente foi revivida nas últimas décadas.
Hoje, a prática da tatuagem polinésia continua. Mas oportunidades cada vez maiores de interação artística entre tatuadores tradicionais e não-polinésios têm contribuído para tensões crescentes relacionadas a questões de apropriação cultural. Muitos designs contemporâneos são símbolos genealógicos e formas de propriedade intelectual relacionadas a famílias específicas, e há uma forte sensação de que eles foram desvalorizados ao serem copiados por pessoas de fora que não têm conhecimento do que esses padrões pretendem transmitir.
No entanto, para os praticantes de tatuagem polinésios e seus destinatários indígenas, a forma de arte permanece fiel às suas origens. A tatuagem não apenas afirma filiação, genealogia e intenção religiosa, mas também presta homenagem aos ancestrais por meio de um movimento artístico de respeito mútuo.